Supérfluo e necessário

Contam os historiadores que certa vez Gandhi estava no aeroporto de Londres, e parou extasiado em frente uma joalheria. Seus acompanhantes perguntaram-lhe qual joia ele desejava, que eles comprariam. No que Gandhi respondeu: – Estou feliz de ver quantas coisas não preciso para viver.

 

A maior necessidade do ser humano é ser reconhecido, percebido, amado. Quem não recebe incentivo sobrevive, esforça-se para ser alguém, mas sempre sentirá falta de algo.

 

Existe a crença de que o necessário é somente aquilo que atende o corpo. Como se a felicidade fosse realizada através das coisas, como se precisássemos somente de moradia, alimentação, segurança, roupas, remédios e, às vezes, incluímos a educação.

 

Somos seres que pensamos, sentimos, choramos, rimos, desejamos, criamos, gritamos, nos irritamos e amamos. Para nós é importante o belo, o bem e o bom. Precisamos de cultura, leitura, paz íntima, vontade de servir e viver bem os relacionamentos.

 

São necessidades básicas também aquilo que preenche a alma, possibilitando o ser transcender os próprios limites, ver o mundo cada vez melhor através da arte, da estesia. Precisamos correr, caminhar, ver o sol nascer, uma criança vir à luz, um pássaro cantar.

 

Estamos desenvolvendo o senso moral, através dos séculos, buscando ser mais humanos, ampliando nossa percepção do que é ético e protegendo a natureza, os animais. Então devemos estar atentos para proteger-nos também e deixar um mundo melhor para nossos filhos e netos.

 

Por isso é melhor ficarmos atentos aos exageros do consumismo, confundindo desejos com necessidades, aceitando as propagandas que trazem para dentro de nossos lares a ilusão das vistas e do coração.

 

O trabalho bem realizado, com satisfação e alegria, o estudo que engrandece e eleva o ser e um lazer que amplia a percepção do belo é uma necessidade também básica. Saber viver o tempo livre, tendo o privilégio de satisfazer as amizades, o convívio saudável, as atividades lúdicas e de introspecção.

 

Sim, precisamos dos bens materiais, pois são frutos do progresso e trazem o benefício para a saúde, o conforto e a segurança. Ninguém vive dignamente sem alimentar-se adequadamente, sem trabalho ou sem proteção. Mas a verdadeira riqueza está na sabedoria das escolhas que fazemos ao longo da vida, nos objetivos que norteiam nossa sensibilidade e como queremos ser reconhecidos, se cheios de grana, mas ignorantes, ou com ela sem a escravidão da soberba.

 

Somos cidadãos do mundo e temos nossa parcela de contribuição quando nos movimentamos para conscientizar cada vez mais a sociedade na distribuição melhor da riqueza, do saber, do tempo e do poder. Pense nisso, mas pense agora! 

 

Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância.